Já falamos um pouco sobre o diagnóstico de autismo em outros posts anteriores (CID -11 e DSM 5), e também falamos sobre as subdivisões feitas a depender do repertório e das necessidades de cada paciente.
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais Edição 5), “Transtorno do espectro do autismo (TEA)” pode ser medido com base nos níveis de suporte que cada indivíduo precisa. Quanto maior o comprometimento, mais suporte é necessário, quanto menor, menos suporte.
São elencados então 3 níveis:
Nível 1 de suporte – também chamado de leve, basicamente se refere a indivíduos que precisam de algum tipo de suporte.
O indivíduo pode precisar de pouco suporte, mas tem dificuldades nas áreas de comunicação social e comportamentos restritos ou repetitivos. Por exemplo: é capaz de falar frases completas e se engaja em interações, mas a conversa com os outros falha e muitas vezes as tentativas de fazer amigos podem ser mal sucedidas. Podem apresentar inflexibilidade, dificuldades com mudança.
Nível 2 de suporte – também chamado de moderado, refere-se a indivíduos que precisam de um suporte substancial.
O indivíduo precisa de mais suporte, mas ainda não tem todas as áreas e atividades da sua vida. Há déficits mais acentuados na comunicação, e dificuldades maiores com mudanças/ flexibilidade ou engajamento maior em comportamentos repetitivos.
Por exemplo: indivíduos que falam palavras ou frases, mas é limitado ao que gosta/ tem hiperfoco.
Nível 3 de suporte – também chamado de severo, se refere a indivíduos que precisam de um suporte bastante substancial.
Já neste diagnóstico, estamos falando de indivíduos que precisam de suporte na grande maioria das atividades da sua vida, e de maneira mais importante. Tem prejuízos significativos na comunicação e comportamentos restritos e estereotipados mais rígidos, mais difíceis de manejar, fazendo com que isso impacte grandemente a autonomia e a convivência.
Por exemplo: indivíduos que falam poucas ou nenhuma palavras, apresentam muitos comportamentos interferentes, e qualquer mudança/ alteração em padrões ou estereotipias, pode ser bastante desorganizador.
O problema dessa classificação
Temos que tomar sempre muito cuidado ao encaixar os indivíduos em caixinhas/ rótulos. Isso pode acentuar o capacitismo. Um indivíduo nível 3 não é menos capaz, ou incapaz de fazer atividades, ou de ter algum nível de autonomia. Ele provavelmente só precisará de mais suporte que os outros.
Os nomes “leve, moderado e grave”, têm sido cada vez menos usados porque justamente focam no que “falta”no indivíduo, e não nas potencialidades. Sendo assim, foca no que é preciso mudar e pode dar a ideia de “incapacidade”de indivíduos diagnosticados com TEA, e é justamente isso que não queremos, certo?
Os nomes, nível 1, 2 e 3, vem na tentativa de mudar um pouco esta ideia, e remeter cada vez mais à quantas mudanças/ o quanto de adaptação e suporte um indivíduo precisa – e não do que ele é ou não capaz de fazer.
Cuidado com casos nível 1
É bastante comum que as pessoas entendam que “autismo nível 1 não precisa de apoio”. Porém, apesar de menos suporte, eles também precisam de suporte e isso não pode ser negligenciado.
Um indivíduo nível 1 pode precisar de pouco ou nenhum suporte com comportamentos restritos e estereotipadas, mas pode precisar de um suporte um pouco maior, mais substancial em comunicação e interação social.
Quando falamos de suporte, temos que pensar que nem eu, nem você, nem nenhuma pessoa performa 100% em todas as áreas da vida. Tem habilidades/ áreas que sou melhor e outras que preciso desenvolver mais. E isso acontece também com indivíduos com TEA. Então, ele ser nível 1 não significa que não precisará de nenhum suporte, significa apenas que em determinadas áreas ele precisa de pouco suporte, e em outras ele pode precisar de mais.
E também não significa que o Nível 3 precisará de muito suporte em tudo.
Por isso, é importante não superestimar nem subestimar os indivíduos diagnosticados com TEA. Cada indivíduo é único, e tem suas dificuldades e potencialidades – assim como eu e você.
O que devemos então, é sempre analisar caso a caso para avaliar no que é necessário suporte e qual suporte é necessário – independente do “nível”do autismo. Certo?
Esperamos que tenha ajudado a entender melhor sobre essas classificações, e alertar também sobre os problemas que podemos enfrentar quando usamos isso para “avaliar” repertórios.
Um abraço,
Carol e Pri